Matteo manteve o sorriso no rosto, mas o peso das palavras de Alek cravou mais fundo do que ele queria admitir. As mãos se contraíram, inquietas, como se o corpo controlasse a vontade de bater em Aleks. Por fora, parecia apenas entediado; por dentro, era um campo minado. Cada provocação de Aleksander parecia saber exatamente onde acertar, onde a fachada começava a trincar. O comentário sobre as “lembrancinhas” lhe arrancou um riso breve, áspero, mas as unhas começavam a se fincar nas palmas, continuando a força descomunal que precisava para não acabar socando Aleksander. Ele só queria tirar uma reação sua, Matteo pensou, deixando aquele mantra ecoar em sua mente. Socar Aleksander só iria piorar as coisas. Matteo era bom em fingir — sempre foi —, mas era péssimo em lidar com aquilo que realmente queria ignorar. A raiva, a vergonha, o medo enraizado de ser mais transparente do que gostaria.
Sabia que Aleksander estava mentindo. Os boatos sobre ele não eram nada como os boatos sobre Aleksander — acreditavam que ele não tinha interesse em mulher — mas nunca que ele estava pegando todos por aí. Inclusive, era o contrário. Porém, Aleksander era tão cheio de si que não ia adiantar discutir. O melhor que ele podia fazer era ficar quieto. Não iria vencer Aleksander naquele jogo. Quando Alek girou nos calcanhares, Matteo acompanhou o movimento com os olhos, o maxilar travado, o peito subindo e descendo de forma irregular. A voz baixa e cortante reverberou como um estalo dentro dele, arrancando lembranças que Matteo preferia manter enterradas — memórias de uma noite que ainda não sabia como rotular sem se sentir ridículo.
Ele cruzou os braços, uma tentativa falha de se proteger, de manter distância, mas o olhar que lançou para Alek era ácido, impulsivo. Matteo odiava aquilo — odiava o quanto ainda se sentia exposto, mesmo sem dizer uma única palavra. O golpe seco contra o saco de pancadas o fez piscar, como se o som quebrasse o transe momentâneo. Matteo endireitou a postura, desenhando de volta o esboço de arrogância que usava como armadura. Só que dessa vez, a linha de tensão em sua mandíbula era impossível de ignorar. A echarpe. O segredo. “Mas só um diz nós saiu do seu caminho para provocar uma pessoa que supostamente você detesta não é mesmo?” Matteo finalmente rebateu, ríspido — Matteo podia não entender muito bem o que aconteceu naquela festa, mas ao menos ele não saiu do seu caminho para provocar alguém que ele não gosta, carregando o tecido da pessoa por aí. Ele não esperou uma resposta de Aleksander, indo embora.
@khdpontos
Alek soltou um riso seco diante da provocação. A maneira como Matteo batia palmas e o chamava de palhaço só confirmava o que ele já sabia — Matteo estava, no mínimo, irritado. E isso, para Alek, já era uma vitória por si só. "Palhaço, é?" Murmurou com um sorriso enviesado. "Bom.. Melhor ser palhaço do que um boneco de vitrine, não acha? Bonito por fora, oco por dentro e sempre tentando esconder a rachadura na base."
Quando Matteo comentou sobre a echarpe, Alek riu mais abertamente, como quem se diverte com a própria audácia. "Não precisa se incomodar com a cueca, Bianchi. Já ouvi boatos suficientes pra apostar que você anda distribuindo lembrancinhas por aí com muito mais frequência do que gosta de admitir." A fala veio com um ar quase casual, mas o olhar ainda era afiado. "A diferença é que a maioria das pessoas guarda essas histórias em segredo. Eu prefiro guardar em seda."
Ele deu as costas por um segundo, como se fosse encerrar a conversa, mas girou sob os calcanhares com a mesma elegância arrogante de sempre. Os olhos semicerrados, a voz mais baixa agora, afiada e cheia de veneno controlado. "E sabe, Matteo.. Você devia tomar cuidado com o que finge não sentir. Esses impulsos que você enterra com tanto afinco? Eles tem o péssimo hábito de florescer no escuro. Às vezes no meio da noite. Às vezes no meio da próxima dança." Voltou a pegar o saco de pancadas com as mãos enfaixadas, mas lançou um último olhar por cima do ombro, o sorriso torto e irônico de sempre, agora levemente mais sombrio. "E quanto ao que eu tô tentando provar? Absolutamente nada. É você quem ainda tá tentando entender o que fez naquela noite." Ele socou o saco com força, o som seco ecoando pela academia. "Mas relaxa, campeão. O segredo tá guardado. E a echarpe também."
Matteo sustentou o olhar dela por um instante longo demais, os olhos escuros parecendo pesar cada palavra dita. A sinceridade de Scarlet não o surpreendia — ele sempre soube que, para ela, ele era pouco mais que uma lembrança apagada. Mesmo assim, alguma parte dele, pequena e teimosa, se encolheu diante da confirmação crua. Ele passou a língua pelos lábios, num gesto distraído, e soltou um suspiro baixo, quase um riso sem força. A mão subiu até a nuca, bagunçando os cabelos antes alinhados para o sermão. Matteo olhou para o chão, para as rachaduras no cimento, como se ali encontrasse a única resposta verdadeira.
Quando falou, a voz saiu rouca, arranhada pelas coisas que não dizia. "Não muda nada, Scarlet," deu de ombros, mas o movimento era mais pesado do que queria deixar transparecer. "Só achei… que talvez fosse menos insuportável. Pra todo mundo," ergueu o olhar de novo, a expressão cansada, mas havia uma ponta de desafio ali, algo quebrado e orgulhoso demais para se render completamente. Ele estava cansado de todos eles agindo uns contras os outros — não era como se ele quisesse estar naquela situação.
"E não, não tô esperançoso. Nem burro a esse ponto." A boca puxou um sorriso torto, sem humor. Ao contrário do que todos achavam, Matteo não era esse nível de burro — não confiava cegamente naquele grupo. Ele precisava fazer o que podia se quisesse chegar na verdade. "Bem, talvez seja melhor parar de tentar achar lógica nas coisas." Matteo enfiou as mãos nos bolsos da calça, balançando o corpo levemente para trás como se se preparasse para se afastar. Mas ficou parado ali, preso numa linha invisível que ele mesmo não conseguia atravessar.
Matteo sempre foi um rapaz bom, educado, e em algum momento da infância ou adolescência dos dois, não conseguia se lembrar exatamente, a amizade se perdeu. E isso ainda remetia uma sensação estranha para Scarlet, a qual demonstrava isso com o silêncio e a ausência de resposta. E ele tinha razão em uma coisa: estavam realmente no mesmo buraco, todos eles. Matteo não seria o ideal para si caso fosse sua alma gêmea, muito contrário a isso, era uma de suas últimas opções caso acontecesse. - Mais legal? Certo... E isso mudaria algo? Já estamos no fundo do poço. - O questionou com certa sinceridade, e a resposta continuava a mesma em seu subconsciente: não. Mesmo depois que tudo isso acabasse e que cada um descobrisse sua alma gêmea, não via um fim de fato para aquela maldição, ao menos não nessa reencarnação. - Está tão esperançoso assim de que tudo vá dar certo quando isso terminar? Porque sinceramente, não vejo como pessoas como nós todos envolvidos possam ser "alma gêmeas" um do outro.
Olivia sempre foi teatral, espontânea... Não era a toa que ela estava anunciando em praça pública que ela era uma das reencarnadas e, não apenas isso, que ele era um dos possíveis pares. O quanto ele acreditava que ela não falava apenas da boca para fora ainda seria determinado, mas podia sentir a incerteza palpável enquanto ela pensava na pergunta dele. E a resposta era, de certa forma, surpeendente. Talvez esperava que ela fosse dizer que era tudo parte do seu teatro. Olivia sempre foi boa em manipular a percepção do público. Mais havia algo de genuíno na sua resposta. Uma fagulha de esperança numa coisa tão distante e intangível que ele não parecia estar de frente para a Olivia, musa de Khadel, mas a Olívia de onze anos que ele emprestou seu casaco. Concordou brevemente com a cabeça, agora seus pensamentos mais agitados que antes, porque era fácil fingir que tudo não passava de um sonho ruim quando todos estavam descrentes, mas as palavras de Olivia parecia atingí-lo um pouco mais certeiras do que ele gostaria de admitir. Ele não sabia ainda como colocar os seus pensamentos em palavras, tão típico de Matteo, quando seus pensamentos voavam muito rápido ele não conseguia ordenar o que gostaria de dizer com facilidade, por isso preferiu o silêncio como resposta.
'O que acha de conversarmos melhor sobre isso...?' Aquelas palavras podiam ser um tormento pessoal para Matteo. A ideia de conversar sobre o relacionamento deles, por mais breve e momentâneo que tivesse sido, havia sido significativo para ele. Suficientemente para que ele se abrisse com ela, o que não era algo que Matteo fazia com frequência. A intensidade do que havia sentido numa noite só poderia ter se caracterizado como paixão, por mais que eles não pudesse conhecer tal sentimento. Mas como poderia enquadrar o sentimento que sua felicidade era dependende da risada da outra naquela noite? Que as coisas que ela lhe contava era o mais precioso dos segredos? Mas a noite efêmera e seus sentimentos havia se evaporado na manhã seguinte com a nausea que um breve olhar para o rosto de Olivia lhe causava. Súbitamente era como se fosse imãs iguais, se repelindo com uma velocidade extraordinária. Deveria manter sua distância? Evitar que aqueles efêmeros sentimentos pudessem voltar a superficie de alguma forma? Matteo não acreditava que eles ainda existiam dentro de si porque o que sentia ao olhar para a morena era uma nostalgia, de estar com a pessoa que lhe conhecia tanto, mas ao mesmo tempo não sabia de nada. Muitos anos se passaram desde que Olivia havia habitado no seu mundo privado e Matteo já não era mais a mesma pessoa. Ele mantia os rumores sobre eles bem alimentado, para que as pessoas mantivessem distância. Não queria, não precisava de ninguém na sua órbita. Mas o convite era exatamente a porta de entrada para se reconhecerem e, de certa forma, aquilo o apavorava. "Ah," murmurou sem jeito, antes de concordar com a cabeça, seguindo com a confirmação passando pelos lábios, "claro." O silêncio momentaneo se instalou entre eles antes que ele seguisse. "Acho uma boa ideia a gente conversar," Matteo não costumava mentir e a parte racional dele falava que seria realmente uma boa ideia, mas existia uma voz no fundo da sua mente que se preparava para um desastre. Era quase como se o inocente jantar ativasse as suas respostas primitivas de fuga ou luta.
( @khdpontos )
Olivia o observou, notando o desconforto dele de forma quase irritante. O jeito como ele levou a mão para a nuca, como se aquilo fosse mais pesado que qualquer treino que ele já tivesse feito, despertou nela uma mistura de impaciência e fascínio. Matteo nunca foi de falar muito, nunca soube se expressar bem, mas, depois de sete anos, parte dela esperava algo mais. Qualquer coisa além daquele "É...". Quando ele finalmente se forçou a dizer que deveria ter ido falar com ela, Olivia sentiu uma pontada de surpresa. Não esperava que ele admitisse aquilo, e menos ainda que demonstrasse a dificuldade que tinha em colocar esse pensamento para fora. Matteo parecia travado, e isso a fez se perguntar se, no fundo, ele não se arrependia tanto quanto ela. Se, depois de todo esse tempo, ele não carregava a mesma incerteza. Mas então ele perguntou aquilo. "Você acredita naquilo?". A pergunta pairou no ar, e Olivia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não precisavam nomear. Ambos sabiam do que se tratava. A maldição e a profecia. O motivo para tudo ter desmoronado nos últimos dias. Matteo parecia não conseguir falar claramente sobre aquilo, enquanto Olivia havia anunciado abertamente em praça pública que era uma das reencarnadas; apenas mais um exemplo de como os dois eram diferentes.
Por mais que tentasse racionalizar tudo, por mais que quisesse se convencer de que seus sentimentos na época eram apenas um reflexo da juventude, do desejo, da conveniência... a verdade era que ela se lembrava. Lembrava do instante em que percebeu que tudo havia mudado. Da forma como sentiu seu peito acelerar, não de tesão, mas de algo mais profundo, assustador, visceral. Lembrava do olhar dele sobre ela naquela noite – não apenas desejo, mas algo mais intenso. Do embrulho no estômago tão gostoso que ela desejou sentir aquilo para sempre. Lembrava de como, pela primeira vez, tudo pareceu real. E no dia seguinte, o nojo. A aversão inexplicável. A rejeição que ambos não conseguiram conter. Então, Olivia riu. Um riso curto, quase irônico, mas carregado de algo que nem ela sabia definir. — Eu quero acreditar. E considerando o motivo ridículo pelo qual eu agi daquela forma com você há sete anos... eu acho que faz muito sentido. — Deveria contar para ele sobre o ranço? Não sabia se ele havia sentido o mesmo, tanto a paixão momentânea naquela noite, quanto o asco no dia seguinte. E se ele não a compreendesse e a achasse maluca? Volátil? Nem sabia o que era pior. Talvez o melhor fosse ser tão intensa, aleatória e confiante como Olivia Boscarino era e simplesmente convidá-lo para um encontro, sem muitas explicações. Mas, parte de si, queria colocar as cartas na mesa, e escutar a versão dele, mesmo sabendo que ele, muito possivelmente, não diria muito coisa - ou até nada. Ela suspirou, de olhos fechados, abrindo logo em seguida com pouca coragem para encará-lo, mas o fazendo. — O que acha de conversarmos melhor sobre isso em um jantar? — E lá estava ele, aquele sorriso ridiculamente confiante, como se não estivesse abrindo o coração há segundos. — O Il Giardino abriu as portas para nós, de graça, com um cardápio personalizado. O que acha?
Ele observou o curativo, ajustando bandagem enquanto entravam no restaurante. "Quê?" Matteo franziu as sobrancelhas juntas ao ouvir a pergunta dela. Ele poderia era ter caido na risada. "Helena, desculpa a franqueza, mas.." ele hesitou porque, no fundo, ele sabia que talvez a franqueza não fosse assim tão boa, "eu não poderia ligar menos para você." Ele não tinha nada contra ela. Assim como não tinha nada em favor dela. Quando estavam juntos, Helena podia ser um pouco irritante para ele. Talvez era um certo ar que lhe parecia de superioridade, que ela passava. Mas, assim que se separavam, ela não cruzava sua mente duas vezes. Agora, com um corte no braço, um monte de gente doida falando de alma gêmea, menos ainda, mesmo que ela estivesse envolvida naquela história. "O que não é uma coisa ruim. É só que eu não tenho sentimentos em relação à você." Matteo deu de ombros, sentando na mesa escolhida. Ele não tinha certeza se ela estava tentando complicar, achando que havia algo mais naquela história, ou se ela iria simplesmente aceitar a sua versão dos fatos. "Você realmente deveria acreditar no que os outros dizem ─ eu sou inacessível." Tinha quase uma pitada de orgulho em sua voz ao dizer isso. Era um mecanismo de defesa, então Matteo não se sentia mal em se defender. "Helena, eu sei que você acredita em toda essa coisa de alma gêmea," ele ainda não estava muito inclinado a acreditar, "mas você não acha que sua alma gêmea deveria talvez ser mais... simples? Alguém que lhe ame por quem você é e toda aquela baboseira de filme?" Não que ele pudesse dizer que não eram eles, porque eles nem se conheciam, mas o problema já começava em até onde Matteo estava disposto a conhecer alguém.
FLASHBACK
Helena observou Matteo com atenção, os olhos semicerrados como se tentasse decifrar cada hesitação, cada nuance no tom de sua voz ao dizer aquele "não" apressado, quase brusco. Ela podia ser um atriz, mas pelo menos tinha conseguido fechar o ferimento de Matteo relativamente bem, o que não quer dizer que seus olhos não voltavam de tempos em tempos a ferida para garantir que não estava manchando o curativo. Por mais que a energia que a adaga emanava ao tocar em seus dedos fosse um bom sinal a culpa ainda assolava o coração de Lena, que só queria poder fazer mais por Matt do que só agradecer. Até porque ela que tinha dado aquela ideia ridicula. "Tudo bem. Se tiver melhor até sairmos pode dirigir" ela suspirou cansada abrindo a porta do restaurante para ele. Sabia que ele era mais calado e tentava respeitar isso, mas o silencio começou a incomodar mais do que o normal "Matteo, você tem algo contra mim?" perguntou meio incerta o olhando por cima do cardápio. Não que ligasse para o que os outros pensavam, mas temia que ele fosse sua alma gêmea e aquele fosse o destino deles: A distancia "Você é reservado, entendo... Mas não consigo acreditar no que falam de você... Digo, é que falam que é meio inacessível e eu... Bem, devo estar incomodando" não era bem uma pergunta. Ela sabia que muita gente não gostava do seu jeito de ser e talvez fosse isso que o afastava. "Eu... Só queria te entender um pouco mais."
Starter fechado para @aaronblackwell
VINÍCOLA VILLA GIORDANO
Nico havia dito para encontrá-lo na Villa Giordano no fim da tarde, mas já se passaram dez minutos do horário acordado e nada do seu amigo aparecer. Normalmente, Matteo não bebia muito. O álcool era uma das piores coisas para a sua rotina de treinos, ou para sua mente afobada. Porém, nas atuais circunstâncias, uma taça de vinho, ou mesmo algo mais forte, não lhe soava mal. A pressão de atingir um nível de perfeição com sua aparência não chegava nem perto da pressão de encontrar uma alma gêmea.
Irritado que devia ter levado um bolo, Matteo tentou a última coisa possível e entrou no estabeleciment, se aproximando da hostess, "Oi," Matteo cumprimentou com brevidade, soltando o ar pesarosamente, "eu estou procurando Nico Cagni. Sabe se ele chegou?" A hostess olhou para o tablet com as reservas antes de falar para ele segui-la, levando-o para uma das mesas na parte externa.
A única resposta que tinha para aquilo era revirar os olhos. Não era sua preocupação — nem do seu interesse — o que se passava na cama de Camilo, mas obviamente era uma das (poucas) coisas que ele poderia indubitavelmente criticar Camilo. Ao menos a moralidade do homem, ou a falta dela, nunca o deixava na mão. Era incrível sua habilidade de ser... Previsível. Era como se Camilo quisesse que todo mundo o visse apenas como uma imagem caricata de quem realmente era. O personagem mais clichê de uma comédia romântica, mas nesse caso fazendo de tudo para não entrar em num arco de rendenção. A mandibula se contraia involuntariamente — Matteo não se importava. Camilo podia fazer um bacanal que não era da sua conta. Não tinha nenhuma interação com Camilo em que ele enxergasse a possibilidade de acharem um meio termo naquele campo de batalha, que pudessem ao menos ser cordiais. Matteo estaria disposto à deixar de lado ao menos os insultos vazios e as ironias desnecessárias, mas Camilo não parecia interessado numa trégua e ele não estava disposto a tomar todos os tiros para ser alguém melhor.
Novamente, não era completamente imune a alfinetada trocada pelo mauricinho, mas ele não deixaria Camilo saber que aquelas palavras o incomodava. Não precisava de um lembrete de como as informações fugiam da sua mente ou se embaralhavam com outras informações de forma a se tornarem quase incompreensíveis. Não precisava ser lembrado de que ele não havia graduado com honras e que a universidade não estava nos seus planos. Não precisava ser lembrado que era sorte que havia conquistado e chegado aonde havia chegado, e o resto ele colocava nas mãos de gente que conseguia lidar com as informações de maneira estratégica, da forma que ele não conseguia. Ele confiava nos outros para guiar o seu destino. Mas não precisava de Camilo para lembra-lo daquilo de forma alguma. Sua mente indo a mil milhas por segundo e ainda assim ele não conseguindo ter as mesmas conclusões óbvias que os outros era um lembrete constante que ele não estava na mesma frequência que todo mundo. Seus músculos se contrairam com o toque. Instintivamente, ele se arrumava para a batalha, mesmo que aquela fosse apenas metafórica. Não iriam trocar tapas, nem socos, e aquilo era um testamento à sua determinação de não levantar a mão para Camilo. Para parecer menos tenso e deixar a foto mais natural, Teo levou a mão até o meio das escápulos do mais velho, olhando para o fotógrafo numa tentativa de tirar a mente do toque bizarro. Vestígio de uma realidade paralela onde talvez Camilo e Matteo se dessem bem. Com a aproximação súbita, Matteo quase deu um passo para trás instintivamente, sentindo o hálito quente de Camilo em sua pele; e o calor eriçando os pelos na sua nuca desconfortavelmente. Idiotamente, ele culpava a maldição, mesmo que não acreditasse naquilo. O fato de toda aquela fábula envolver os dois de certa forma era a única razão pelo qual ele sequer estava desconfortável naquela proximidade. Ele precisava colocar a distância entre eles novamente. "Por que você está preocupado com meu tamanho, Ricci?" Levantou a sobrancelha, tentando manter o sorriso falso que falhou por um momento. Ele não gostava de ser provocado, muito menos ele gostava de ter que dar satisfação para Camilo. Mas maldito seria se não o respondesse. "Eu ainda posso quebrar você no meio." As palavras duras possuiam grande dissonância com o sorriso que dava para as câmeras, mas tudo fazia parte do teatro e ele já tinha muito treinamento em manter um sorriso para as lentes agora que havia se recomposto o suficiente. "Ou que tal pergunta para Olivia? Ela não tinha nenhum problema com meu tamanho," forçou um sorriso amarelo para o outro. Se tinha algo imperdoável para Camilo, aparentemente, era o fato de Matteo ter namorado Olivia. Pelo que entendia, Olivia nem era ao menos para ser a pessoa que era prometida a Camilo. Era a sua irmã. Era ridículo que ele achasse que podia conquistar Liv com as coisas de família quando ela não seria nada além da segunda escolha.
tudo bem, sabia (beeeem lá no fundo) que não era justo considerar matteo um completo idiota. o próprio camilo não era a pessoa mais academicamente brilhante, embora compensasse com a esperteza safada adquirida durante a vida. acima de tudo, ricci sabia o que era ter pessoas duvidando de suas capacidades e do quão frustrante aquilo podia ser. se ele tomasse um tempo para olhar o mundo além do próprio umbigo, reconheceria que todas as suas provocações não apenas eram maldosas como equivocadas. se matteo fosse assim tão incapaz, como o mais velho estava acostumado a provocar, não teria tanto sucesso. mesmo um rostinho bonito - e um corpo melhor ainda - não seriam suficiente se ele não tivesse nada além para oferecer. mas de todos os momentos em que camilo poderia se disponibilizar a enxergar o outro por lentes mais gentis, aquele com toda certeza não era um deles. especialmente não quando toda aquela conversa de alma gêmea trouxera à tona mais do que nunca o ressentimento por olivia, e todo o sentimento de insuficiência que agora parecia querer instigar em bianchi apenas por despeito. "não se preocupe, isso está na minha lista para mais tarde." instintivamente os olhos buscaram caterina, a jovem loira casada com o presidente do banco da cidade vizinha, um homem pelo menos trinta anos mais velha que ela. então voltou a focar no adversário à frente, particularmente frustrado por sentir que ele era o único a lidar com aquela situação como se fosse uma competição.
ele preferia presumir que matteo simplesmente não era capaz de devolver suas provocações do que acreditar que o mais novo apenas não o considerava merecedor de seu tempo e esforço. talvez se ele engajasse naquela briga que camilo constantemente provocava, eles se socariam uma ou duas vezes e seguiriam em frente. mas não... toda vez que matteo se mantinha suficientemente controlado diante de cada provocação era como um golpe por si só. "é, você não é conhecido por saber muita coisa mesmo." respondeu, o tom repleto de cinismo. antes que pudesse ser ainda mais indelicado, um fotógrafo se aproximou solicitando uma foto. ricci concordou e ajeitou a postura ao lado de bianchi, erguendo o queixo para compensar os míseros dois centímetros que ele jamais admitiria separarem os dois. a mão esquerda se escondeu no bolso da calça e a direita foi até o ombro alheio, em uma espécie de abraço, dando uns tapinhas como se fossem amigos de longa data. não deixou de notar duas coisas: primeiro, o quão enorme eram as costas largas e musculosas do rapaz. ele próprio tinha um físico muito atraente, mas não era tão forte. segundo, o perfume que lhe atingira o olfato provocando uma reação absolutamente diferente do esperado. ele costumava se lembrar do cheiro das pessoas com facilidade, mas não se recordava de que matteo cheirava tão bem. especialmente para um homem das cavernas. talvez fosse a primeira vez que se aproximava dele sem ser após horas de exercício. franziu ligeiramente o cenho para os próprios pensamentos ridículos, um pequeno riso escapando e se camuflando bem como algo intencional para a foto. entre um clique e outro, aproximou o rosto do ouvido alheio, como quem está prestes a contar um segredo. "só te achei meio magrinho. acho que precisa tomar mais whey. ou bomba, sei lá o que você usa"
O prefeito de Khadel se sente honrado em ter [ MATTEO BIANCHI ] como morador de sua excêntrica cidadezinha. Aos seus [ 29 ] anos, ele é bastante conhecido pelos vizinhos como [ CROSSFITEIRO ]. Dizem que ele se parece com [ CHARLES MELTON ], mas é apenas um [ MODELO E INFLUENCER FITNESS ]. A ausência do amor em sua vida, deixou [ TEO ] um pouco [ EXIGENTE ] e [ EGOCÊNTRICO ], mas não lhe atormentou o suficiente para deixar de ser [ DETERMINADO] e [ LEAL ]. Esperamos que ele encontre a sua alma gêmea, quebre a maldição da cidade e consiga ser feliz!
triggers ─ menções de bullying, transtornos de aprendizagem e déficit de atenção
Giulia Bianchi queria mudar a vida da sua família. Mas um erro – ou talvez uma tentativa desesperada de sentir algo – mudou a dela primeiro. Nativa de Khadel, a maldição estava sempre presente, mas assim como sonhava em elevar o status social e financeiro da sua família, sonhava em; sentir algo como lia nos livros e via nos filmes. Claramente, a tentativa havia sido inútil. Qualquer faísca que pudesse ter achado que sentia na noite anterior havia se esvaído no amanhecer e, por sorte, o homem foi embora da cidade. Giulia, que também esperava que iria embora da cidade no começo do ano letivo para a universidade de Roma, foi pega de surpresa com os enjôos constantes, o cansaço excessivo, e não pode ignorar os sinais do iminente desastre nos seus planos.
Como todos na cidade, Matteo não era fruto do amor. Ele era uma inconveniência na história dos Bianchi. Por mais que Giulia tivesse decidido manter e cuidar do filho, não podia deixar de ser lembrada de tudo que não havia alcançado por conta da criança. Seus pais também haviam sido decepcionados pelo que acreditavam que seria o futuro brilhante da filha, mas os Bianchi acreditavam em cumprir o seu papel e assumir as consequências dos seus erros. Matteo era a consequência.
Nascido no ápice do inverno, Teo era um bebê adorável. Apesar de não ter sido exatamente desejado, não deixava de ser uma criança encantadora, com bochechas tão redondas quanto o restante do corpo, e a pele levemente mais escura que lembrava o pai, desaparecido da vida de Giulia. Ela até tentou procurá-lo nos primeiros meses, mas não teve muito sucesso, com a família toda dele indo para fora de Khadel. Por mais que a criança não fosse parecida com os Bianchi, ele seria puramente Bianchi por fim.
Logo nos primeiros anos de vida, Teo começou a mostrar sinais de desajustamento e dificuldade de aprendizagem. Demorou mais para andar e falar que outras crianças. Não mostrava os mesmos sinais de desenvolvimento nas idades corretas. Giulia não conseguia passar tanto tempo quanto deveria com o filho, precisando trabalhar em mais de um emprego para que pudessem ter o mínimo de conforto. Definitivamente não conseguia ir com tanta frequência aos terapeutas e psicólogos infantis indicados seu causar um déficit no orçamento deles por meses.
Já no primário, não conseguia ficar parado por muito tempo para a classe, sendo constantemente enviado para a diretoria. Logo, ficou alto demais para sua idade, com os braços parecendo pesados demais para o seu controle. As roupas surradas e normalmente num tamanho menor que ele não ajudava nada para que ele se ajustasse com os colegas. Crianças podem ser francas demais, no limite do malicioso, e os comentários maldosos nunca lhes foram poupados.
A cada ano que passava, as brincadeiras se tornavam cada vez mais maldosas. Por mais que Matteo se mantivesse calado, na dele, e sem perturbar ninguém além da sua mãe, que constantemente tinha que atender as reuniões relacionadas às suas dificuldades escolares, ele era um alvo fácil. Não revidava, escutava calado, e isso só fazia com que as outras crianças se aproveitassem mais.
Foi numa surra particularmente dolorosa aos quinze anos que fez com que Matteo se jogasse com tudo na academia. Havia começado porque ele queria se defender. Mas, à medida que ele começou a se exercitar, Matteo descobriu coisas que nunca tivera antes: disciplina, determinação e um propósito. Nunca havia sentido como se estivesse no mundo para fazer nada, nunca se sentiu bom em nada, mas, de repente, havia encontrado algo em que se sentia capaz. E, com o tempo, as mudanças na sua aparência física se tornavam visíveis, assim como a mudança de atitude dos outros em relação a ele.
Com isso, cada vez ele queria experimentar mais, ele queria ser melhor, mais desejado, mais bem tratado. Já não sabia se ele fazia isso porque desprezava os outros, ou porque desesperadamente precisava da aprovação dos outros. Talvez fosse culpa da maldição que não os deixasse sentir amor de verdade.
Ele foi encontrado pelas fotos e vídeos desengonçados de treino que postava e convidado a fazer alguns trabalhos de modelo, no final da adolescência. Um determinado ensaio que fez aos vinte e um anos se tornou viral, fazendo com que Matteo deixasse de ser um modelo qualquer para ser uma sensação da noite para o dia. Seu instagram explodiu e ele não sabia muito bem o que fazer, tendo que pedir ajuda de outros para conseguir administrar aquela nova vida.
Quem vê Matteo nas redes sociais encontra um modelo impecável, moldado à perfeição. Mas aqueles que ousam atravessar sua fachada cuidadosamente construída descobrem que a superfície é apenas um escudo — e que por trás dele há muito mais do que apenas um corpo esculpido. Aqueles que se atrevem a atravessar a fachada, são recebidos com uma assertividade mordaz que beira ao rude. Aos que são ainda mais atrevidos e decidem forçar o seu caminho para a vida dele, conhecem um lado muito diferente do egocêntrico narcisista que se importa apenas com a sua imagem física e descobrem um Matteo leal e dedicado, que só nunca aprendeu a confiar em alguém num nível profundo.
Matteo: Eu não sei nada deles, Liv. E importa?
Matteo: E se a gente não tiver nada a ver com eles?
Olivia: Você diz nós dois como um par, certo? Se for, eu topo!
Olivia: Eu gosto do pente da Rose ou do broche da Kimberly. Você se identifica com os objetos do Jack ou do Edward?
"Não," reiterou novamente, com pressa. Parecia uma péssima ideia para ele ter que explicar como ele ganhou aquele ferimento. O seu orgulho também estava um pouco ferido, pelo corte feito por um cara muito mais velho e menor, mas ele não sabia nem por onde começar a explicar o porque ele havia topado aquela ideia maluca quando foi proposta. Qualquer pessoa que olhasse o punhal podia ver que ele não valia muito. Não entendia nem ao menos o apego do homem aquele objeto. Tudo que Matteo podia sentir era uma energia estranha quando segurava o punhal. Matteo não podia estar com menos fome depois de todos os acontecidos. Haviam conseguido a adega, mas aquela história estava mais insana que necessário. Como alguém podia acreditar que eles precisavam arriscar suas vidas por uma maldição? Coisas como aquela não existiam. Mais ele não havia sido exatamente muito amigável com Helena (não que ele fosse com qualquer pessoa), e ela parecia dar o seu máximo para isso. Ele podia ser ao menos um pouco menos inflexível. "Pode ser," ele disse, forçando um sorriso com os lábios pressionados uns aos outros. "Eu posso dirigir agora," Matteo sugeriu, rezando silenciosamente para que Helena estivesse cansada ou abalada demais e concordasse com ele.
STARTER TO @thematteobianchi APÓS CONSEGUIR A ADAGA DE ROMENA
Todos aquela confusão com o velho maluco do antiquário tinha deixado Helena uma pinha de nervos, ainda estava sem acreditar que ele tinha realmente desejado lutar com um jovem o dobro do tamanho dele , pior, tinha o ferido! "Tem certeza que não quer ir no hospital?" perguntou novamente. Tinham passado na farmácia e comprado o que precisavam e feito o curativo, porém a preocupação da mulher era genuína. Sabendo que não tinha muito o que pudesse fazer a mulher soltou um suspiro pesado olhando em volta "Pelo menos vamos comer alguma coisa? Não sei você, mas to sem comer desde o café da manhã... O que? Achava que ia ser rapidinho com a Zafira"
Fazia muito tempo que Matteo não dividia intimidade com ninguém. E ele não falava de sexo. Ele sempre foi uma pessoa fechada, então o círculo de pessoas que realmente o conhecia era ínfimo e, para ele, parecia que quando alguém chegava muito perto, eles acabavam se afastando, de uma maneira ou outra. A situação era estranha. Exisia tanta familiaridade entre eles, ao mesmo tempo, Olivia havia crescido, e ele imaginava que outras mudanças haviam acontecido.
"Claro que significou, Olivia." Ele respondeu, soltando o ar. Não sabia como explicar toda a sensação do asco e mal-estar, ou sequer porque teve aquela reação. Na sua cabeça, era algum tipo de bloqueio ─ estavam perto demais de ser um casal de verdade e, por algum motivo, ele não podia aceitar isso. A história de maldição, por mais intrigante e curiosa que fosse, era difícil de aceitar. Uma força maior que pudesse controlar a sua vida, incluíndo a sua vida romântica, parecia mais ridículo do que aceitar sua parcela de culpa no ocorrido. Simplesmente não havia trabalhado o suficiente no relacionamento deles. Era jovem, tinha outras prioridades. Ele e Olivia estavam escalando para o topo de suas carreiras. Seria tolice que eles soubessem algo sobre amor aos vinte anos. Essas eram algumas das racionalizações que ele dava para ele mesmo. Matteo pegou o copo de vinho, usando-o como um escudo e uma distração, circulando o líquido dentro da taça antes de tomar um gole demorado. "Eu não sei o que dizer além disso, Liv. Como eu disse, a forma como aconteceu foi... estúpida. Mas talvez fosse inevitável." Talvez era para eles terem se separado e crescido separadamente, talvez destino existia daquela forma ─ certas coisas eram inevitáveis. "Talvez agora a gente só precise seguir em frente ao invés de ficar revivendo o passado."
Observou Matteo com atenção, absorvendo cada detalhe. O modo como ele suspirou antes de responder, o jeito que o sorriso veio antes das palavras, quase como um escudo. Ela já o tinha visto assim antes. Matteo sempre foi uma incógnita, um livro que parecia aberto, mas cujas páginas eram ilegíveis para quem não soubesse decifrá-lo. Só que Olivia sabia ler algumas partes. Talvez fosse uma das poucas que realmente sabia; ela gostava de acreditar nisso. E, mesmo assim, ele ainda conseguia surpreendê-la. Quando ouviu o "não", seco e definitivo, uma parte dela se preparou para mais. Matteo nunca foi de falar muito, mas aquilo não era o suficiente. E então veio a continuação, e Olivia precisou se segurar para não rir, não de deboche, mas porque, no fundo, aquela era a resposta mais Matteo possível. Olivia piscou, inclinando ligeiramente a cabeça. Admitia sua dificuldade em lidar com o 'não', afinal, o tivera por anos em sua vida até se tornar a musa de Khadel e as bajulações serem muito presentes em sua vida. Mas ela optou por não dizer nada. Deixou que ele continuasse, observando como ele mantinha os olhos baixos, fixos no ponto onde suas mãos se encontravam. Olivia continuou o carinho gentil com o polegar alisando os dedos da mão masculina.
O silêncio entre eles não era desconfortável. Nunca foi. Os dois aprenderam a se compreender na ausência de conversa, mesmo quando discordavam, mesmo depois de tantos anos afastados. O calor da pele dele contra a dela era familiar, e Olivia se pegou apertando um pouco mais os dedos, quase inconscientemente, como se quisesse que ele lembrasse que ainda estavam ali. Que aquilo ainda podia existir. Então veio a acusação, ainda que sem julgamento, e ela arqueou as sobrancelhas. Andando em círculos? Talvez. Mas Matteo sempre foi mais direto, mais prático. Olivia, por outro lado, gostava dos caminhos sinuosos, os joguinhos de palavras, a manipulação. As entrelinhas eram sua zona de conforto. Mas ali não era sobre conforto. Não quando se estava confrontando o único rapaz por quem chegou perto de desenvolver sentimentos verdadeiros de paixão. Ela respirou fundo quando ele finalmente admitiu, pronta para a sua vez. Ele não queria estar ali, não por causa dela, mas porque toda aquela situação era desconfortável, e apesar de fingir muito bem com aquele sorriso no rosto e a postura elegante, ela concordava.
Olivia não levou para o lado pessoal. Sabia que ele não dizia aquilo para magoá-la, sabia que Matteo odiava falar sobre sentimentos, sobre qualquer coisa que o tirasse da segurança do seu silêncio. A confissão veio baixa, mas definitiva. E a mulher sentiu o peso dela se acomodar entre os dois. Não sorriu dessa vez. Não havia ironia, não havia provocação. Apenas olhou para ele, sentindo algo se remexer dentro de si. Algo que ela ainda não sabia nomear. — Bem, minha vez de admitir, então. Eu não deveria ter terminado daquela forma. Eu fui imatura, egoísta e não soube lidar com o que estava sentindo. — Sem mais detalhes. Talvez fosse doloroso ouvir que ela sentiu um asco repentino por ele, ao ponto de não conseguir vê-lo sequer para colocar um ponto final no relacionamento. Ela sabia que se ouvisse dele, ficaria magoada. Pior! Se ele não tivesse sentido, significou que naquela noite em que ela quase se apaixonou por ele, o sentimento não havia sido retribuído. Ela não sabia qual resposta era pior de ouvir. — Eu não deveria ter feito isso porque... — Ela bufou, sem saber como pôr em palavras sem se expor demais antes de ouvir a versão dele. — Lembra-se da noite dois dias antes da mensagem de término? Ela foi tão especial para você quanto foi para mim? — E o coração quase parou enquanto a tortura da espera pela resposta a cortava por dentro.
75 posts