com @sorrentinosmuse no banho de ervas aromáticas
Matteo se sentia atraído pelo evento de alguma forma. Talvez fosse relacionado a maldição que, agora, ele hesitantemente acreditava. Principalmente depois que ele foi até a cigana e agora ele não conseguiu mais se sentir confortável na sua pele ou olhar o seu reflexo no espelho. Talvez por acontecer na casa de Rose Von Bleicken, que ele se via voltando dia após dia. Talvez fosse porque ele não quisesse ficar dentro da própria casa, onde os espelhos estavam cuidadosamente cobertos. Ir na academia era uma pequena sessão de tortura, onde ele assistia o seu eu de quatorze anos levantando cento e quarenta kilos. Naquele evento, ele podia evitar tudo isso e cada dia parecia carregar uma nova surpresa para ele. Naquele dia, ele estava olhando os produtos à venda no L'Erbario di Gilda. Isso é — até Nonna Gilda aparecer com um som ultrasônico, "i miei amanti," ela disse, abrindo um braço para ele e outra para alguém atrás dele. Matteo olhou por cima do seu ombro, vendo a figura de Helena. Ele queria resmungar, audivelmente, mesmo que ele tenha até partido em bons termos com Helena. Ele não estava com disposição para a personalidade gigante dela. Mas parecia que eles estavam sendo arrastados já para dentro de algo que parecia uma tenda improvisada, com cheiros fortes. "A gente só tem que ser forte e aguentar um pouco," ele finalmente murmurou em direção a Helena.
@khdpontos
igreja de khadel com @eusouscarlet
Matteo não ia há igreja todos os domingos, apenas em algums. Por insistência de sua mãe, aquele era um deles. Depois da festa das máscaras, talvez ele precisasse pedir perdão pelos seus pecados. Matteo nunca foi altamente religioso. Também nunca havia visto nada de errado em homens ficando com homens. Porém, nunca havia sido o caso com ele. E, como se a sua situação não pudesse piorar, um dos homens que ele havia beijado era a pior pessoa do mundo. Foi uma grande surpresa que Matteo havia sentado o sermão inteiro e não havia sido enviado direto para o inferno. Se não por ter ficado com homens, pelas mentiras envolvidas naquela situação. No fim do sermão, um rosto familiar surpreendente entrou em seu campo de visão, e pedindo licença para sua mãe, ele foi até a ruiva. "Pensei que você derretia entrando na igreja," disse, apesar da falta de intimidade entre eles. Depois de dois rituais e uma maldita maldição que os entrelaçava, talvez ele acreditasse que pudessem ser um pouco informais.
Matteo não desviou o olhar dessa vez. Observou Helena com uma atenção silenciosa, quase desconfortável, como quem não sabe o que fazer quando alguém escolhe ver além da fachada. Havia algo na forma como ela falava — tão contida, mas ainda assim vulnerável — que o fazia se encolher por dentro. "Não é pessoal, tá? Eu só… não confio fácil. Nunca confiei. E cada vez que tentei, só me fodi mais um pouco. Então, se eu pareço fechado ou defensivo, é porque sou." Se recostou levemente, cruzando os braços, um gesto que parecia distante mas era só proteção. Era o máximo de abertura que conseguia oferecer naquele momento — e, vindo de Matteo, já era muito. "Só… me dá tempo." E com isso, ele deixou a frase morrer ali, sem pressa, mas sem necessidade de prolongar. Helena tinha falado. Ele também. E por agora… era o suficiente.
@khdpontos
FLASHBACK ANTES DO BAILE
Helena manteve o olhar em Matteo sentindo-se estranha. Aquilo ali, aquela conversa esquisita, o muro dele tão bem levantado, tudo aquilo cutucava algo nela que normalmente preferia ignorar. Ela apoiou os cotovelos na mesa, os dedos entrelaçados como se estivesse se preparando para responder a uma coletiva de imprensa. Por fora, impecável. Por dentro, uma bagunça só. "Matteo…" o nome saiu mais baixo do que ela pretendia, quase com doçura, e por um momento ela não o confrontou, apenas respirou fundo afinal não queria discutir.. Ela só... queria ser compreendida. E talvez, no fundo, compreendê-lo também. "Eu não estou tentando demais porque quero te conquistar ou convencer você de alguma coisa. Eu só... Pensei: talvez essa maldição tenha sentido. Talvez ele seja alguém que vale a pena conhecer além do que os outros enxergam." Ela desviou os olhos por um segundo, encarando o próprio reflexo na colher ao lado da xícara. No movimento a volta deles. Até no movimento das garçonetes. "Você se sentiu encurralado. Eu entendo. Juro. Não vou te forçar a nada, Matteo. Nem amizade, nem confiança, nem conversa." Ela voltou a encara-lo, um tanto mais suaves por estarem realmente se falando e botando na mesa o que pensavam. "A gente não amou ninguém de verdade ainda. E talvez nunca ame. Mas eu vi acontecer, eu vi de perto o brilho nascer nos olhos de alguém... Por isso achei que a gente precisa parar fugir, tentar se conhecer..." Helena girou o anel no dedo, de novo. O gesto automático de alguém que sempre fingia ter tudo sob controle, ancorando-se na terra e não deixando a mente ir para onde não desejava. "Se eu te fiz sentir invadido... me desculpa. Não foi minha intenção, serio. Às vezes eu esqueço que as vezes posso ser um pouco demais..." ela deu um sorriso de canto. Tentando deixar as suas próprias muralhas caírem, afinal era cansativo demais tentar ser A Helena Sorrentino... " Eu só queria conversar, mas vou me controlar."
O motivo pelo qual ele gostava de estar sozinho era pelo desconforto que o silêncio ocasionava. Não tinha mais estranho que duas pessoas que mal se conheciam forçadas a estarem juntas num silêncio desagradável. Não que o silêncio em si o incomodasse. Matteo. apreciava o silêncio quando estava sozinho. O problema era a companhia. Como se a pessoa ao seu lado pudesse observar a sua parte mais íntima só com o par de olhos pregados nele. Claramente, não era isso que Helena fazia, mas tinha uma parte dele que acreditava que ele seria pego de surpresa, na sua farsa. Ele seria descoberto. Seja porque ele não era tão bom quanto as pessoas imaginavam, para aquela fama que ele não sabia o que fez para merecer, seja porque iriam descobrir que na verdade ele foi parar na cachoeira ao acaso, não era uma das almas gêmeas, fosse apenas pelo fato que ela notaria o que ele sempre soube; ele não era especial. Ele engoliu silenciosamente a própria saliva, tentando umidecer a garganta que estava seca à todo momento. Abriu a boca para perguntar se ela realmente acreditava na maldição, mas antes das palavras saírem, ele se refreeou. A falta de intimidade entre eles não deixava que ele pulasse tão rapidamente da poça rasa de socialização que estavam para suas convicções mais profundas. Matteo não conseguia entender certas nuances da socialização. Ele preferia que as coisas fossem ditas de maneira direta e clara, sem que ele precisasse ficar tentando decifrar o significado. E, dessa forma, ele não conseguia entender se tinha uma sutileza no que ela dizia, como se ele devesse algo para ela por ter estado naquela campanha. Ele tinha feito apenas o seu trabalho. Não foi como se tivesse arquitetado para as coisas acontecerem da forma que aconteceu. Claro que todo o furor que ela havia causado tinha sido incrivelmente benéfico para Matteo, mas se ele não tivesse monetizado o momento como havia feito, não teria feito diferença. Porém, poderia ter sido apenas um comentário inocente que ele estava racionalizaod demais. Poderia não ter sido absolutamente nada. "Sim. E com o instagram eu consigo outros trabalhos..." Teria preferido que ela tivesse feito outra pergunta, uma que não direcionasse o foco tão para ele, mas tinha a impressão que passaria aquele encontro desconfortável. Em um encontro seria esperado que ele falasse dele mesmo. "É, a calmaria de Khadel certamente é um atrativo para quem gosta de paz. Acha que voltou de vez?" Perguntou e aquela pergunta tinha diversos motivos. O primeiro, para desviar o foco novamente dele, e o segundo era que se algo sequer pudesse acontecer (Matteo ainda achava difícil ele estar nessa confusão), se ela ficaria na cidade ou iria mudar novamente.
O olhar que Helena direcionou a Matteo poderia servir como uma boa explicação e até poderia faze-la em alto e bom tom, mas apenas se restingiu a levar a bebida aos lábios, até porque deveria ser algo mais do que obvio que nenhuma mulher gostava de ser forçada a se manter numa conversa com homens que não conhecia principalmente estando visivelmente desconfortável. Talvez alguns achassem que ela era imune àquilo, ainda que acreditasse que não importava a classe social, popularidade ou fama, toda mulher seria posta a prova por algum homem tentando sua sorte. O que piorava quando a pessoa em questão era como ela e não sabia dar um fora direito...
O olhar de Sorrentino mudou de foco para as pessoas que cantavam no palco, alheios a eles e por um segundo sorriu, vivenciavam algo que tão facilmente tinha: atenção, prestigio. A pergunta do companheiro, porém, a trouxe para a realidade, fazendo-a voltar a olhá-lo, dessa vez com um sorriso "Er... Incrivelmente andam mais calmas. Mesmo com o lance da maldição e tudo mais " com a taça apoiada na mesa ela mudou de posição na cadeira para que pudesse ficar mais de frente para o rapaz. Muitos achavam que a vida de celebridade era um mar de rosas, calma e cheia de glamour... Em maioria era sim. Por outro lado tinha os ônus de ser uma figura pública, coisa que ali não estava acontecendo com tanta facilidade "A cidade é pequena, não há tantos fãs ou paparazzis. Por mais que eu ame atuar essa calmaria me faz bem" sabia quem ele era. Já tinha feito suas pesquisas sobre cada um dos 'renascidos' até porque tinha que ter uma noção qual deles poderia ser sua alma gema, buscava pessoas minimante parecidas "Mas e você hun? Soube que disparou depois daquela campanha... Continua como modelo?"
Starter fechado para @oliviafb
IL GIARDINO
Matteo se sentia incrívelmente sufocado no terno recentemente comprado. Ternos não era exatamente o seu estilo de vestimenta favorito. Não que ele não fosse familiar ao estilo, já tendo fotografado dezenas, se não centenas, de ternos diferentes, mas era incrível como algo tão simples quanto roupas podiam simplesmente mudar todo um sentimento na vida real. Não era como se estivesse indo para a própria morte, mas o gosto de bile que parecia subir ocasionalmente pela sua garganta o fazia parecer que sim. Aquela parecia ser uma péssima ideia. Ele? Reencarnado? Nem os contas de fadas eram tão fantasiosos assim. Khadel era uma cidade normal e, acima disso, ele era normal. Melhor que a média, apenas por causa da sua disciplina inabalável, mas era normal e não uma alma de cem anos ou que que quisessem acreditar.
E, ainda, ali estava ele, vestido igual um pinguim, ajeitando a gola apertada do terno enquanto encarava o restaurante. Era errado. Olivia acreditava naquilo, não era? Ou estaria ela falando aos prantos que eles eram almas gêmeas apenas para chamar atenção? Não que fosse apenas ele. Ela parecia acreditar que o Chris também poderia ser e, por alguma razão, aquilo parecia o incomodar. Deixa de ser burro, Matteo. Eles já haviam ido por aquela rota e não havia dado certo. Matteo preferia focar em coisas onde fosse suceder. Parecia estúpido pensar em algo provado e fracassado. E, ainda, ali estava ele, esperando a ex-namorada. Definitivamente, deveria estar enlouquecido. Pescou o celular do bolso para olhar as horas. Se ainda conhecesse Olivia, ela estaria elegantemente atrasada, para que sua entrada tivesse impacto. Ela quem costumava pensar nesses detalhes na breve relação entre eles. Detalhes que nunca passariam na cabeça de Matteo. Estava absorto na confusão que se desenrolava em sua cabeça, até notar a apróximação da morena pelo canto do olho.
( @khdpontos )
Observava-a pelo canto do olho, como anteriormente o fazia, sempre que achava que ela não notava. A proximidade que criaram durante os anos era... Excêntrica. Por um lado, o que os aproximou havia sido a ajuda que ela lhe dava nas matérias, como uma professora diligente, porém muito mais atenciosa com a sua dificuldade de compreensão do que seus próprios professores. Por outro lado, Matteo podia ficar escutando-a falar por horas, sobre qualquer outro assunto, assistindo envolto desde jovem o cometa que ela era. No auge dos seus quatorze anos, entretanto, ele não tinha desenvoltura o suficiente para sequer entender a atração, ou fazer algo sobre isso e, quando ela se afastou, ele definitivamente não tinha maturidade emocional suficiente para ir atrás e entender o que aconteceu. Ele deixou-a ir, sem brigas e sem esforços. Com o passar dos anos, pensou menos e menos no que poderia ter feito errado, aceitando o acontecimento apenas como fatos da vida. Agora, anos depois, talvez ele devesse ter se arrependido, tentado entender melhor o que houve, ou simplesmente não tê-la deixado ir com facilidade. Mas não podia fazer nada sobre.
Para ele, o sucesso não importava muito. Era apenas um trabalho. As pessoas provavelmente acreditavam que Matteo adorava chamar atenção, entre o instagram e o fato de não dar muita atenção à ninguém ao redor dele como se ele estivesse trabalhando o tempo todo com psicologia reversa, mas a verdade era bem mais simples; ninguém o entenderia. Ninguém compreenderia todas as distâncias que ele percorreu para simplesmente se encaixar e, ainda assim, não sentia que fazia parte ali. Não entenderiam o olhar para o espelho e ainda ver um adolescente estranho por atrás da própria imagem. Por isso lhe contava em uma das mãos seus amigos, por isso não conversava muito com ninguém. Quanto mais intangível fosse, mas fácil era manter a ilusão de que Matteo não somente se encaixava, mas talvez fosse melhor que eles. Ilusão essa que era tão facilmente desmanchável na sua cabeaça que exigia esse esforço dele. Ainda assim, fez o que era ncessário — o sorriso curto, as palavras baixas, silenciosas, 'obrigado'. O que mais podia fazer quando alguém o parabenizava? Não sentia-se merecedor, mas não iria deixar outra onda de palavras que não deveriam fazer seu caminho para fora serem vomitadas naquela conversa. O pouco que Matteo podia realmente sentir era orgulho de ter construído algo, por mais frágil que isso fosse, quando o que escutava era que nunca iria valer nada. Ou como o que construiu dava uma vida mais confortável, não apenas para ele, mas para sua família. O orgulho de simplesmente ser algo há mais quando não ouviu que iria muito longe por anos no ensino médio.
Ao ouvir a hesitação e a escolha de palavras, não sabia nem como reagir. Matteo não era exatamente tímido em relação à sua forma ou ao seu corpo, afinal, parte do seu trabalho requeria que ele compartilhasse do corpo, muitas vezes com pouca roupas, sem nenhum pudor. Mas, o comentário de Nes transformava-o automaticamente no adolescente estranho e desengonçado novamente, sem consciência corporal dele mesmo. Era uma surpresa que ele não tivesse deixado a raquete bater em sua própria cabeça depois disso. Não podia restringir o rubor de subir as bochechas, mas podia fingir a atitude blasé que sempre tinha, como se aquilo não fosse nada. “Confuso pra caralho,” as palavras saiam com mais facilidade do que ele gostaria de admitir. Sentia um leve alívio de poder falar aquelas palavras em voz alta. As únicas pessoas que podiam, de fato, entender o que acontecia com aquele grupo, eram pessoas do próprio grupo e Matteo ou não tinha intimidade com os individuais, ou tinha um relacionamento complicado. Não era como se ele realmente acreditasse nas coisas de maldição, mas a pergunta que circulava em sua mente era 'por que ele?' Ele deu um sorriso fraco quando Neslihan perguntou sobre a sua mãe, “está ótimo como sempre.” O relacionamento entre eles era bom, mesmo que não fosse perfeito. Com o passar dos anos, foi melhorando, quando Matteo deixava de ser um pequeno estorvo e passava a ser independente. O ápice provavelmente havia sido ele ter proporcionado mais para sua família, como se finalmente o fato dele ter sido um impedimento na vida dela tivesse se pagado. “Na verdade, essa história parece empolga-la,” ele disse, com um sorriso fraco e frouxo. Sua mãe sempre foi adepta ao amor. Ao menos, era o que ela falava. Os livros que lia, os filmes que assistia, e as músicas que gostavam, sustentavam uma ideia de amor que ela nunca conseguiu encontrar. Então o fato de tudo aquilo realmente existir e ela não encontrar o amor não ter sido sua culpa, parecia deixá-la em paz. “Você sempre pode ir lá, sabe?” Matteo sugeriu. A existência dele provavelmente não deveria ter ficado entre elas, se fosse escolha da sua mãe. Nes era provavelmente a filha que ela não teve e, logicamente, a próxima opção era que eles acabariam em um relacionamento. Para sua infelicidade (da mãe dele, do Matteo mais jovem também), esse nunca foi o caso. “Ela ainda adoraria ver você.” Sua mãe nunca entendeu o afastamento deles e Matteo também nunca soube explicar. Porém, depois de algum tempo, ela parou de importuna-lo sobre o assunto, vendo que as coisas não voltariam a ser como eram antes. Mas, novamente, ele não queria trazer aquele assunto a tona, receosso que aquilo pudesse mais incomodá-la do que ajudá-los. "Ela fica muito irritada que eu não como mais cannolis como antigamente."
ainda que o tempo os tivesse transformado em completos desconhecidos emocionais — não que a proximidade outrora compartilhada tivesse sido imensamente profunda, e tampouco por falta de vontade de sua parte — em khadel , era virtualmente impossível não ser alcançada por sussurros e boatos sobre qualquer um . de longe , acompanhara a ascensão de matteo , do antigo companheiro de estudos ao influencer e modelo reconhecido , desejando poder oferecer sua alegria que sentia ao vê-lo conquistar e alcançar , ainda que de uma maneira contra ela mesma lutava , aquilo que sempre almejara . então, neslihan jamais acreditara que ele precisasse se transformar para ser aceito , não quando sempre fora extraordinário sem qualquer esforço . sentia o olhar dele pousado sobre si , aquela sensação estranha e , ao mesmo tempo , agridocemente familiar , reacendendo a habilidade que desenvolvera na adolescência de perceber a presença dele sem que uma única palavra fosse dita . evitava pensar na forma como havia desfeito aquele laço , como simplesmente o ignorara sem explicações , sem justificativas , e , mais ainda , na maneira silenciosa com que ele aceitara sua ausência . vê-lo com olivia não a surpreendera — faziam sentido juntos . e , sendo ambos absurdamente especiais , se encontrassem felicidade um no outro , ela comemoraria . mas então , como era da curiosa norma da cidade , distanciaram-se , e a gökçe jamais ousou mencionar matteo à boscarino .
volvendo a atenção para a raquete que parecia quase anciã no aperto masculino , custava a crer que ele a mantivera todos aqueles anos . notava os vestígios de poeira ainda presos entre as cordas , assim como as figuras que colara pouco antes de matteo tomá-la emprestada e jamais devolvê-la . não que houvesse se importado na época , nem mesmo quando fora punida por kadir pela suposta irresponsabilidade de tê-la perdido . sua mente adolescente , fascinada , via no gesto uma tentativa inconsciente de manter consigo algo dela . assentiu quando ele confirmou que já não praticava tanto e riu baixo ao perceber a forma como se corrigia , como se as palavras lhe escapassem quase em confissão , e ante o leve rubor que tingia a pele bronzeada. ❝ bem , imagino que não sobre muito tempo , entre a academia e o seu trabalho . ❞ deu de ombros , encontrando os olhos dele , um sorriso genuíno curvando os lábios . ❝ falando nisso , acho que não cheguei a te dizer como fiquei feliz pelo seu sucesso . ❞ achar era um eufemismo indulgente — não o dissera , arrependida da turbulência que a engolira e fizera com que o deixasse para trás . e não era apenas felicidade o que sentira na época — mas orgulho .
por um instante , observou-o alongar . os movimentos agora eram fluidos , tão distintos da postura inibida de quando eram mais jovens , e ainda assim havia nele um resquício do garoto que , de alguma forma , conquistara partes da criança e da adolescente que ela fora . ❝ posso moderar meu ritmo para ser mais justa , embora duvide que seja necessário . você está muito mais... em forma do que me lembro . ❞ piscou para ele , tentando disfarçar a hesitação sobre o adjetivo a ser usado , sem revelar os verdadeiros pensamentos . meneou a cabeça para si mesma antes de girar nos próprios calcanhares em direção à lançadora , empurrando a máquina para a linha lateral e recolhendo as bolas sobressalentes . lançou uma para as imediações da rede , para ser utilizada , quando a hesitação na voz alheia a fez pausar por alguns instantes , de costas para ele . por cima do ombro , encontrou o olhar que a acompanhara . ❝ levando em consideração tudo o que aconteceu e vem acontecendo... surpreendentemente ainda sã , e você ? ❞ aproximando-se , abaixou-se para apanhar a esfera amarelada e felpuda que havia arremessado . ao se erguer , apoiou um dos quadris contra o poste , aguardando-o finalizar . ❝ e como está signorina giulia ? sabe que ainda sonho com os cannolis que ela fazia ? ❞ recordava-se da figura materna do bianchi , por vezes , com mais afeto do que da própria , e o termo respeitoso escapava dos lábios com a mesma naturalidade que parecia ter voltado a ela sem que percebesse .
Matteo não respondeu de imediato. Só observou. O vinho girava devagar entre seus dedos, mas ele nem olhava mais pra taça. Os olhos estavam nela. Sempre nela. Cada palavra que Olivia dizia parecia ficar suspensa no ar por tempo demais. Como se ele estivesse tentando absorver tudo sem deixar escapar nada. Quando ela enfim parou de falar, o silêncio ficou entre eles por alguns segundos. Matteo pousou a taça com cuidado sobre a mesa, o som leve do vidro sendo a única interrupção. Respirou fundo antes de dizer, "não sei, Liv." O olhar dele estava fixo no dela. Era raro vê-lo assim — tão direto, tão cru. Mas ainda assim... contido. Ele não era do tipo que se deixava levar. Nem pelas emoções, nem pelas memórias.
Ele desviou o olhar, só por um instante, observando o tecido branco sob seus dedos. Passou a mão ali, devagar, como se precisasse se ancorar em algo concreto antes de continuar. Ele não podia simplesmente pular em um relacionamento. Não era assim como às coisas funcionavam. Parecia apenas um estalar de dedos para Olivia, a as coisas eram como antes. "As coisas não voltam simplesmente a ser como era antes, Liv." Não apenas porque ela queria. Voltou a encará-la, agora com o maxilar levemente travado. "A gente queimou tudo de uma vez. E o que sobra depois disso? Cinza." Se recostou na cadeira, cruzando os braços num gesto quase involuntário — meio defesa, meio hábito. "Eu não sei se o que a gente sentiu foi amor. Ou só o reflexo do que a gente queria desesperadamente acreditar que podia sentir." A expressão dele suavizou por um segundo. "Mas... eu sei que doeu. E que ficou." O pior era o sentimento de abandono final que ele mesmo contribuiu.
Olhou pra ela de um jeito mais demorado agora. Não como quem avalia ou julga, mas como quem tenta sentir o que vem de dentro, mesmo quando não se quer sentir. "Eu não quero repetir o mesmo erro. Nem com você, nem comigo." A mão dele voltou à mesa, agora parada, como se pesasse mais. Ele hesitou um pouco, e então disse, mais baixo: "Então… se for pra tentar, tem que ser diferente. Do começo mesmo." O tom dele era mais suave agora, mas ainda assim firme. Como se essa fosse a única forma que ele conhecia de cuidar de algo: com cautela. Um meio sorriso apareceu nos lábios dele — pequeno, quase imperceptível. "Talvez a gente não seja mais os mesmos, Liv... mas talvez seja exatamente por isso que agora tem chance." Então ele estendeu a mão pra ela. O gesto era simples, sem grandes gestos dramáticos. Só um convite silencioso.
“Claro que significou, Olivia.” Ela assentiu levemente, com o olhar fixo em Matteo, mas apesar da resposta ter aliviado o seu coração, ela não bastou. Não quando ele desviava os olhos, não quando o corpo dele parecia querer se proteger de algo que nem ela conseguia nomear. Mas significou. Isso era um fato. Ela engoliu seco. Não sabia se doía mais ouvir que foi especial do que se ele tivesse negado. Porque, se foi, então por que ele deixou aquilo morrer? Por que permitiu que o asco tomasse conta ao ponto de deixá-la sozinha na pior versão de si mesma? Era um pensamento egoísta, considerando que havia feito o mesmo, mas não conseguia deixar de culpar a si mesma e a ele também. Ela o observou girar o vinho como se buscasse ali as palavras certas, ou coragem. Talvez os dois. Olivia piscou lentamente. Era raro que alguém a chamasse de Liv. Era íntimo demais, cru demais. Ela se manteve imóvel, mas sentiu o estômago revirar com o apelido. Nostalgia ou saudade, não saberia dizer.
Ela sentiu a vontade súbita de rir, um riso que não era de graça, nem zombaria, mas puro desespero. Inevitável. Como se não tivesse doído. Como se fosse só mais um tropeço do destino, e não o começo do fim da mulher que ela costumava ser antes de virar a musa de Khadel. E foi quando o ouviu dizer sobre seguirem em frente, como se aquela conversa, para ele, significasse apenas pôr em pratos limpos e colocar um ponto final definitivo. Ah. A velha saída prática de Matteo. Simples. Racional. Quase fria. Olivia suspirou e enfim soltou a mão dele, deixando-a cair sobre o próprio colo. Não era um gesto de raiva, mas de cansaço. Seus olhos se perderam por um segundo na mesa perfeitamente arrumada, antes de voltarem a encará-lo com uma doçura nada típica dela. — E se a gente tentasse de novo? — A pergunta saiu baixa, mas clara, sem rodeios. Nada de joguinhos, nada de entrelinhas. Só a verdade, crua. — Eu sei que não somos mais os mesmos. E que existe isso... essa maldição, essa... coisa que nos prende, que sufoca antes mesmo de acontecer. Mas e se a gente tentasse? As coisas parecem diferentes agora, com a Zafira ajudando, e as pessoas na cidade se apaixonando. Talvez seja o nosso momento. — A pessoa certa no tempo errado, ela começava a acreditar que haviam sido isso. Apenas eram imaturos, e a maldição forte demais. Talvez, agora, a chance de serem felizes num relacionamento de verdade fosse possível. Ela inclinou o corpo para frente, os olhos atentos, mas sem súplica. Era um convite, não um pedido. — Só... uma chance. Pra ver se aquela chama ainda existe. Porque naquela noite, Matteo, eu juro, ela brilhou. Forte. E eu acho que você sentiu também. Ou não teria sentido o asco bem no dia seguinte, como eu também senti. — Afirmou, ainda que ele não tivesse dito com todas as letras que isso havia acontecido. Pausou, mordendo o canto do lábio. — Não tô dizendo que vai ser fácil. Talvez o asco venha de novo. Talvez a gente falhe. Mas pelo menos a gente tentou. E se isso ajudar com a maldição? E se for isso que nos salva? — Havia esperança ali, sim. Mas também havia medo. Porque, no fundo, Olivia sabia que amar era a coisa mais perigosa que poderia fazer. E mesmo assim, estava disposta a correr o risco.
Tentou forçar um sorriso para dispensar os homems que se aproximaram da sua companhia, mas seu rosto parecia mais ter se contorcido numa careta; o que certamente fariam os homens se afastarem, junto com a altura e largura de Matteo que deveria ser maior que a junção dos dois homens. Deu um sorriso curto enquanto se afastavam em direção à mesa escolhida, "não pode culpá-los por tentar a sorte deles," adicionou num tom levemente zombeteiro. Para ele, era quase cômico alguém na pequena cidade de Khadel achar que havia chances com Helena, ele incluso. Se aquela não fosse uma piada de mau gosto, ela provavelmente era quem havia recebido a pior mão entre eles. O grupo mais improvável que poderia estar conectado de alguma forma e, entre eles, Helena, que provavelmente poderia escolher qualquer pessoa que quisesse em outras circunstâncias. Não sabia quais sentimentos tinha, mas pena por ela ter que aturar aquilo era, definitivamente, um entre eles.
Não era um grande acompanhador das notícias de celebridade, mas o stalker de Helena era uma coisa muito comentada no burburinho de Khadel para passar despercebido, até mesmo por ele. "Então... Como estão as coisas desde que você voltou?" As palavras lhe saiam tão estranhas e faziam seu estômago se retorcer de uma forma desconfortável. Não era como se fizesse algo horrível, mas a simpatia parecia forçada e fazia com que ele quisesse cavar um burraco e sumir dali. Ao mesmo tempo, acreditava que o silêncio seria tão desconfortável quanto e faria toda a sua pele formigar. De forma nenhuma ele iria ganhar naquela situação. Era ridículo — Matteo estava provavelmente na situação que muitos desejavam e, ainda assim, não poderia se sentir mais inadequado. Qualquer homem ali provavelmente daria o mundo para estar em seu lugar.
Apesar de ser uma figura pública, Helena estava conseguindo esconder com impressionante destreza de seus fãs a ideia excêntrica de encontros com suas possíveis almas gêmeas. A mídia estava tão absorta no caso do stalker que o pedido de privacidade que ela havia feito foi respeitado — e não era para menos, seus advogados haviam sido extremamente convincentes.
A escolha, como não tinha muitas, de quem iria para qual encontro consigo foi até fácil, assim como convidar Matteo para ser seu par; tanto que ela nem precisou recorrer ao truque de mencionar que fora o trampolim que ele precisava para alcançar o sucesso. Escolheu o the Loft pela gama de possibilidades de atividade, não era como se não tivesse feito suas pesquisas sobre o homem, porém o tiro saiu pela culatra afinal quando foi pegar uma bebida dois rapazes lhe pararam para pedir autógrafos e tentar fazer amizade com a atriz. Ou melhor, importuná-la e não a deixar sair daquela conversa.
A chegada de sua companhia a fez abrir um sorriso um tanto quanto aliviado "Oi Matt, você demorou... O que acha daquela ali?" a morena pediu licença pra os homens, que olhavam seu acompanhante com um tanto de submissão, eram espertos o suficiente e para não contrariarem quando ela saiu andando para uma mesa um tanto afastada do palco "Obrigada por ter aparecido, aqueles dois foram bem... Insistentes" ela respirou aliviada sentando na mesa para poder terminar seu drink em paz
Matteo: Você sabe qual objeto você vai pegar no ritual?
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