com @alekmoretti em autocuidado e terapias táteis
"Ah," o assistente disse alto, batendo as palmas juntas, com uma felicidade nada necessária, "ele disse que a dupla dele ainda estava aqui fora." Matteo olhou ao redor, esperando que ele estivesse falando com outra pessoa, mas só tinha ele no momento ali. Franziu as sobrancelhas juntas. Será que alguém estava lhe pregando uma peça? Matteo estava mais do que acostumado com algumas perripécias de desconhecidos para ficar sozinho com ele, como se ficar sozinho fosse fazê-lo mudar de ideia sobre o que ele queria, mas num evento que parecia tão obcecado nos apaixonados e na maldição, não fazia sentido fazer algo dessa forma. "Acho que você está me confundindo com alguém," respondeu, apesar das chances dele ser confundido serem ínfimas. Confundido com a porta? Bem que ele preferiria. Seria alguma surpresa de Olivia? Ela adorava essas coisas. Mas eles já estiveram naquele stand — não faria sentido estarem ali novamente. Apesar do dobro do tamanho, Matteo não ofereceu resistência para o assistente. Imaginou que ele só estivesse fazendo o seu trabalho, e por saber que ele podia machucar a maioria das pessoas normais, ele raramente oferecia resistência.
Foi empurrado para dentro de um outro quarto, levemente irritado. Seu humor nos últimos dias não estava dos melhores. Entre o fracasso do ritual, o maldito espelho, as lembranças do baile dançando em sua mente quando menos esperava... Matteo já nem sabia se amor realmente importava. Pelo que ele estava fazendo aquilo? Amor? A ideia era quase risível. A única pessoa com quem se importava era Olivia, e se ela não fosse sua alma gêmea? Estava cansado daquela brincadeira da Zafira — ela estava fazendo uma grande piada deles. Quando seus olhos se depararam com a pessoa que parecia ter perdido o parceiro, Matteo balançou a cabeça rapidamente, negando como se tivesse preso dentro de um sonho ruim. "Não — não," ele rosnou por baixo da respiração, virando para a porta, "tem algum engano aqui." Sua voz era veemente. Ele tinha que sair dali. "Divirtam-se," o assistente falou antes de sair e, com um click metálico, trancar eles ali dentro. Matteo não lembrava disso de quando esteve ali com Olivia. Não tinha certeza se aguentaria Aleksander enchendo o seu saco por algumas horas. Talvez partisse para assassinato. O outro era movido a uma pilha inesgotável — como se lhe encher o saco o energizasse — e Matteo, quem nem em seus melhores dias conseguia tolerá-lo, não estava nos seus melhores dias.
Ele suspirou pesarosamente e decidiu se sentar no chão, em silêncio, como se sentar na cama fosse perigoso demais. Tentava racionalizar que o beijo entre eles apenas havia acontecido porque não sabiam quem era o outro — nunca teria acontecido em circunstâncias normais, nem fora daquela festa. O único problema era que o fato lhe atormentava demais para algo que ele dizia não importar. Descansou os cotovelos nos joelhos e cruzou os braços para abaixar a cabeça, como se não olhar ao redor fosse fazer o tempo passar mais rápido. Se não fosse maluquice, ele diria que Aleksander planejou aquilo para lhe encher o saco — assim como havia aparecido na academia com parte da sua fantasia para lhe assombrar. Para quem me odeia tanto, ele aparece um assustável número de vezes na minha vida sem ser convidado, pensou. "Não sei porque eles pensaram que eu era seu par," finalmente falou, se defendendo daquela maluquice. Não era uma novidade na cidade que Matteo e Aleksander não se davam bem. Talvez o assistente apenas acreditasse que era uma boa pegadinha, colocar os dois 'apaixonados' que se odeiam numa sala para se massagearem — como se eles fossem fazer isso.
@khdpontos
Matteo sustentou o olhar dela por um instante longo demais, os olhos escuros parecendo pesar cada palavra dita. A sinceridade de Scarlet não o surpreendia — ele sempre soube que, para ela, ele era pouco mais que uma lembrança apagada. Mesmo assim, alguma parte dele, pequena e teimosa, se encolheu diante da confirmação crua. Ele passou a língua pelos lábios, num gesto distraído, e soltou um suspiro baixo, quase um riso sem força. A mão subiu até a nuca, bagunçando os cabelos antes alinhados para o sermão. Matteo olhou para o chão, para as rachaduras no cimento, como se ali encontrasse a única resposta verdadeira.
Quando falou, a voz saiu rouca, arranhada pelas coisas que não dizia. "Não muda nada, Scarlet," deu de ombros, mas o movimento era mais pesado do que queria deixar transparecer. "Só achei… que talvez fosse menos insuportável. Pra todo mundo," ergueu o olhar de novo, a expressão cansada, mas havia uma ponta de desafio ali, algo quebrado e orgulhoso demais para se render completamente. Ele estava cansado de todos eles agindo uns contras os outros — não era como se ele quisesse estar naquela situação.
"E não, não tô esperançoso. Nem burro a esse ponto." A boca puxou um sorriso torto, sem humor. Ao contrário do que todos achavam, Matteo não era esse nível de burro — não confiava cegamente naquele grupo. Ele precisava fazer o que podia se quisesse chegar na verdade. "Bem, talvez seja melhor parar de tentar achar lógica nas coisas." Matteo enfiou as mãos nos bolsos da calça, balançando o corpo levemente para trás como se se preparasse para se afastar. Mas ficou parado ali, preso numa linha invisível que ele mesmo não conseguia atravessar.
Olivia sempre foi teatral, espontânea... Não era a toa que ela estava anunciando em praça pública que ela era uma das reencarnadas e, não apenas isso, que ele era um dos possíveis pares. O quanto ele acreditava que ela não falava apenas da boca para fora ainda seria determinado, mas podia sentir a incerteza palpável enquanto ela pensava na pergunta dele. E a resposta era, de certa forma, surpeendente. Talvez esperava que ela fosse dizer que era tudo parte do seu teatro. Olivia sempre foi boa em manipular a percepção do público. Mais havia algo de genuíno na sua resposta. Uma fagulha de esperança numa coisa tão distante e intangível que ele não parecia estar de frente para a Olivia, musa de Khadel, mas a Olívia de onze anos que ele emprestou seu casaco. Concordou brevemente com a cabeça, agora seus pensamentos mais agitados que antes, porque era fácil fingir que tudo não passava de um sonho ruim quando todos estavam descrentes, mas as palavras de Olivia parecia atingí-lo um pouco mais certeiras do que ele gostaria de admitir. Ele não sabia ainda como colocar os seus pensamentos em palavras, tão típico de Matteo, quando seus pensamentos voavam muito rápido ele não conseguia ordenar o que gostaria de dizer com facilidade, por isso preferiu o silêncio como resposta.
'O que acha de conversarmos melhor sobre isso...?' Aquelas palavras podiam ser um tormento pessoal para Matteo. A ideia de conversar sobre o relacionamento deles, por mais breve e momentâneo que tivesse sido, havia sido significativo para ele. Suficientemente para que ele se abrisse com ela, o que não era algo que Matteo fazia com frequência. A intensidade do que havia sentido numa noite só poderia ter se caracterizado como paixão, por mais que eles não pudesse conhecer tal sentimento. Mas como poderia enquadrar o sentimento que sua felicidade era dependende da risada da outra naquela noite? Que as coisas que ela lhe contava era o mais precioso dos segredos? Mas a noite efêmera e seus sentimentos havia se evaporado na manhã seguinte com a nausea que um breve olhar para o rosto de Olivia lhe causava. Súbitamente era como se fosse imãs iguais, se repelindo com uma velocidade extraordinária. Deveria manter sua distância? Evitar que aqueles efêmeros sentimentos pudessem voltar a superficie de alguma forma? Matteo não acreditava que eles ainda existiam dentro de si porque o que sentia ao olhar para a morena era uma nostalgia, de estar com a pessoa que lhe conhecia tanto, mas ao mesmo tempo não sabia de nada. Muitos anos se passaram desde que Olivia havia habitado no seu mundo privado e Matteo já não era mais a mesma pessoa. Ele mantia os rumores sobre eles bem alimentado, para que as pessoas mantivessem distância. Não queria, não precisava de ninguém na sua órbita. Mas o convite era exatamente a porta de entrada para se reconhecerem e, de certa forma, aquilo o apavorava. "Ah," murmurou sem jeito, antes de concordar com a cabeça, seguindo com a confirmação passando pelos lábios, "claro." O silêncio momentaneo se instalou entre eles antes que ele seguisse. "Acho uma boa ideia a gente conversar," Matteo não costumava mentir e a parte racional dele falava que seria realmente uma boa ideia, mas existia uma voz no fundo da sua mente que se preparava para um desastre. Era quase como se o inocente jantar ativasse as suas respostas primitivas de fuga ou luta.
( @khdpontos )
Olivia o observou, notando o desconforto dele de forma quase irritante. O jeito como ele levou a mão para a nuca, como se aquilo fosse mais pesado que qualquer treino que ele já tivesse feito, despertou nela uma mistura de impaciência e fascínio. Matteo nunca foi de falar muito, nunca soube se expressar bem, mas, depois de sete anos, parte dela esperava algo mais. Qualquer coisa além daquele "É...". Quando ele finalmente se forçou a dizer que deveria ter ido falar com ela, Olivia sentiu uma pontada de surpresa. Não esperava que ele admitisse aquilo, e menos ainda que demonstrasse a dificuldade que tinha em colocar esse pensamento para fora. Matteo parecia travado, e isso a fez se perguntar se, no fundo, ele não se arrependia tanto quanto ela. Se, depois de todo esse tempo, ele não carregava a mesma incerteza. Mas então ele perguntou aquilo. "Você acredita naquilo?". A pergunta pairou no ar, e Olivia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não precisavam nomear. Ambos sabiam do que se tratava. A maldição e a profecia. O motivo para tudo ter desmoronado nos últimos dias. Matteo parecia não conseguir falar claramente sobre aquilo, enquanto Olivia havia anunciado abertamente em praça pública que era uma das reencarnadas; apenas mais um exemplo de como os dois eram diferentes.
Por mais que tentasse racionalizar tudo, por mais que quisesse se convencer de que seus sentimentos na época eram apenas um reflexo da juventude, do desejo, da conveniência... a verdade era que ela se lembrava. Lembrava do instante em que percebeu que tudo havia mudado. Da forma como sentiu seu peito acelerar, não de tesão, mas de algo mais profundo, assustador, visceral. Lembrava do olhar dele sobre ela naquela noite – não apenas desejo, mas algo mais intenso. Do embrulho no estômago tão gostoso que ela desejou sentir aquilo para sempre. Lembrava de como, pela primeira vez, tudo pareceu real. E no dia seguinte, o nojo. A aversão inexplicável. A rejeição que ambos não conseguiram conter. Então, Olivia riu. Um riso curto, quase irônico, mas carregado de algo que nem ela sabia definir. — Eu quero acreditar. E considerando o motivo ridículo pelo qual eu agi daquela forma com você há sete anos... eu acho que faz muito sentido. — Deveria contar para ele sobre o ranço? Não sabia se ele havia sentido o mesmo, tanto a paixão momentânea naquela noite, quanto o asco no dia seguinte. E se ele não a compreendesse e a achasse maluca? Volátil? Nem sabia o que era pior. Talvez o melhor fosse ser tão intensa, aleatória e confiante como Olivia Boscarino era e simplesmente convidá-lo para um encontro, sem muitas explicações. Mas, parte de si, queria colocar as cartas na mesa, e escutar a versão dele, mesmo sabendo que ele, muito possivelmente, não diria muito coisa - ou até nada. Ela suspirou, de olhos fechados, abrindo logo em seguida com pouca coragem para encará-lo, mas o fazendo. — O que acha de conversarmos melhor sobre isso em um jantar? — E lá estava ele, aquele sorriso ridiculamente confiante, como se não estivesse abrindo o coração há segundos. — O Il Giardino abriu as portas para nós, de graça, com um cardápio personalizado. O que acha?
Ele levantou uma sobrancelha, sem respondê-la. A forma como Helena falava com ele não parecia deixar aberto a muitas interpretações. Ou, talvez, ele não estivesse tão disposto a isso. A crença dos dois eram tão destoantes que apenas acrescentavam a pilha de ínumeras diferenças entre eles. Como água e óleo. Se o ensaio que haviam feito juntos havia feito parecer que eles eram do mesmo mundo, Matteo achava que tinha a confirmação que não poderia estar mais enganado. E não por causa do status de celebridade ou nada desse tipo, eles apenas essencialmente viam as coisas de formas diferentes. "Não," respondeu resoluto, "assim como você, assim que o sentimento ruim apareceu, eu também fui embora." O gosto amargo da forma como as coisas haviam sido com Olivia voltava a tona no assunto, e talvez tivesse partilhado mais do que devesse ou gostaria. "Porque é assim que eu escuto o que você disse, Helena." Era quase acusatório. Como ela podia falar que o amor não existia se, ao primeiro sinal, fugia? E se o amor não fosse só uma série de obstáculos a serem superados? Filmes, séries e livros fantasiosos não pareciam a melhor fonte para acreditar no que era o amor, já que até eles podiam criar aquelas artes, sem ter sentido nada do que mimetizavam. "Você diz que não quer sentir esse tipo de sentimentos, mas o amor não é só flores, não é?" Levantou a sobrancelha, indagando ela com um pouco de desafio. "Mas você não quis ficar para descobrir," deu de ombros. Não iria brigar por uma crença. "O que exatamente minha rede social mostra que eu amo, Helena? Eu mesmo?" Soltou com uma risada baixa, algo que era raramente acontecia. Ele achava difícil ver algo além dele mesmo na sua rede e o que endossava, o que fazia parecer um grande narcissista. "Mas, para te responder, eu amo ter a capacidade de fazer o que eu gosto, todos os dias. E, se isso é o que minha rede social mostra, que seja." Não se importava se sua resposta o fazia parecer ainda mais superficial. Aquela conversa havia provado que ele ainda não estava pronto para ser vulnerável com alguém que era mais distante dele.
Era engraçado como Helena conseguia ver a vida como poço de cor e esperança, enquanto a própria vida poderia ser descrita como sem cor ou tempero. O amor pelas pessoas sempre era enevoado pelo asco e pela raiva, enquanto o desejo por bens e fama só cresciam. Talvez fosse aquilo que a fizera crescer tanto, não tinha nada para deixar para trás, não havia amor ou laços fortes o suficiente para a prender em qualquer canto. "Não me diga que nunca sentiu isso? Um sentimento indevido que aparece do nada, quase como se a sua história com a pessoa fosse apagada..." tentou explicar, mas era profundo demais. Helena se apaixonou algumas vezes na vida e ainda assim não conseguia entender como aquela repulsa aparecia tão rápido, ignorando o carinho e o companheirismo que antes existia, quase que a impedia de olhar para a pessoa novamente.
A mulher preferiu se calar novamente, sorvendo as ultimas gotas de bebida em seu copo de uma vez antes de pedir mais um. Aquilo estava ficando pessoal demais para o seu gosto... Seu olhar desviou para a multidão novamente engolindo seco antes de voltar para ele "Tão arduamente que já me feri o suficiente para saber que não quero sentir esses tipos de sentimentos por quem me importo" havia magoa em sua voz, uma dor que não poderia ser explicada sem ser por experiencias que marcavam sua alma tão profundamente que talvez ela nunca cicatrizasse. "Pelo jeito que fala parece que nunca tentou realmente amar alguém né?" perguntou na lata para ver se saia do foco daquela conversa. Odiava falar das próprias experiencias, porque isso abria portas para reviver as coisas que queria deixar mais do que escondidas. "Mas me diga, o que você ama Matteo? Verdadeiramente falando. Duvido que seja só o que sua rede social mostra..."
Matteo: Hm vi. Podemos ir sim. Te encontro lá?
Matteo: Mando uma mensagem mais perto para a gente combinar.
Olivia: Acho que nada além do que quase todo mundo sabe. E eu não sei qual o critério dessa coisa de reencarnação. Tipo, a gente volta toda vez tendo a mesma personalidade ou cada reencarnação muda?
Olivia: Porque se for a mesma essência, eu me identifico mais com a Rose do que a Kimberly.
Olivia: Mas, ei, chéri, viu que o instagram da cidade falou sobre uma Feira dos Sentidos?
Olivia: É só depois do ritual, mas tá afim de ir? Podemos conversar mais sobre isso lá.
O fato de que havia aceitado um encontro deveria ter sido um motivo de fofoca, mesmo que a pessoa com quem ele havia aceitado o encontro fosse Helena Sorrentino. Matteo normalmente dava motivos para as pessoas fofocarem exatamente pelo número de encontros que ele não aceitava e o fato de que apenas a estrela de cinema havia sido suficiente para fazer com que ele mudasse de ideia certamente iria aumentar o conto de que ele achava que ninguém era bom o suficiente para ele. Ninguém podia ver as engrenagens da sua cabeça trabalhando arduamente para fazer sentido de toda aquela história.
E pouco fazia sentido.
Talvez se fosse mais sociável já teria tido as respostas que gostaria e poderia sair dali vitorioso, mas, no momento, ele arranhava o tampo da mesa distraidamente com uma das unhas para manter-lhe presente no encontro enquanto evitava ir muito a fundo na sua psique. Era claro que o encontro era desconfortável para ele, sempre numa posição de defesa, mas parecia inocente suficiente pelo olhar externo. A música, as pessoas, as péssimas vozes massacrando a música escolhida no karaokê... Não havia nada naquela situação que o fizesse mais confortável e sabia que não deixava as coisas mais fáceis para Helena. Mas uma das coisas que havia aprendido era a determinação de levar as coisas até o fim. E, assim, ele veria aquele encontro com Helena até o fim, por mais desastroso que acabasse sendo. As palavras dela lhe atingiram como um caminhão, já que ele nunca havia imaginado uma vida fora de Khadel e, agora, simplesmente ele era forçado a imaginar as coisas mais frutíferas e longínquas em um curto espaço de tempo. Matteo não sabia se estava disposto a vida que Helena poderia lhe dar, assim como ela bem decididamente não estava propensa a vida que ele tinha em mente. Ele poderia ganhar muito, mas tinha que estar aberto também a abrir mão de muito.
Ele franziu as sobrancelhas com leve confusão. Matteo não precisava que ela apontasse que a fama que cada um deles possuia era diferente. Mas a fama que ele possuía não era algo que ele desejou ou buscou. Um acidente do destino. Não podia necessariamente reclamar, afinal, era responsável por ele ter uma vida financeira mais estável que sua mãe jamais teve, porém sempre revirava os olhos com a atenção que recebia. E, particularmente em Khadel, Matteo recebia bastante atenção. Ele sempre quis ser incluído, ser tratado como um deles, mas mesmo com tudo que havia feito para se encaixar, não poderia se sentir mais deslocado. Tentou desviar do assunto inicial ─ gostava de música, definitivamente não iria cantar ─ e aproveitou o toque sutil dela para entrar no assunto que eles realmente deviam dar atenção. Tudo poderia mudar dependendo do que ela acreditasse. Se Helena realmente acreditasse na maldição, ela estava buscando encontros românticos e ele seria uma péssima escolha, ainda mais no Loft. Deveria ter chamado o Christoper! "Então você acredita que existe uma maldição?" Matteo levantou uma sobrancelha com a pergunta. Ainda estava descrente em relação ao status da maldição, mas estava definitivamente curioso com os acontecimentos recentes, e era aonda mais buscava respostas dos supostos encarnados.
As musicas de fundo e a movimentação das pessoas no local eram uma distração bem vinda para os mil pensamentos que passavam na cabeça de Helena. Já tinha falado com seus fãs e, com o pedido para que pudessem deixá-la aproveitar a noite como eles, ninguém realmente parecia notar o quão estranho era a relação do casal. A risada, porém, saiu dos lábios da negra que negou com a cabeça rapidamente para aquela pergunta "Eu posso estar gostando dessa calma, mas certeza que eu surto se ficar mais do que algumas semanas nesse lugar." respondeu leve encostando o corpo na cadeira brincando com o canudo da bebida despretensiosamente. Sua mente vagava em alguma forma de quebrar o gelo sem ficar parecendo uma esnobe ou uma idiota. Normalmente as pessoas vinham super animadas e interessadas em conversar consigo, então o jeito mais retraído do homem a deixava desconcertada. Só que tinha se proposto fazer dar certo "Sem querer desvalorizar seu trabalho, mas essa fama de Instagram é bem diferente do que eu vivo. Isso aqui..." ela fez um sinal para o bar inteiro como se pudesse sinalizar a situação que estavam "Não aconteceria onde moro. Estar entre os civis sem uma câmera apontada para mim, sem o furor dos fãs... Ou pelo menos não sem pagar o dono do restaurante." ela deu um suspiro saudoso, mas acabou por dar uma risada discreta negando com a cabeça. Amava aquela vida. Não lhe custava atender o publico, tirar fotos, gravar textos... Na verdade ela amava como valorizavam seu trabalho, então gostava ainda mais quando os olhos voltavam para si. Ela até ia oferecer o gostinho de sua vida, talvez um story no instagram, na esperança de abrir um pouco mais aquelas barreiras, mas achou que seria pretencioso demais querer comprar alguém assim na cara dura "Gosta de musica? Digo, estamos num karaokê... Seria um belo fora se tivessem te botado aqui contra vontade. Não sei os critérios que estão usando para decidirem quais são os melhores lugares... Mas temos que convir que não tamo sabendo é de nada com esse lance da quebra da maldição..."
Starter fechado para @oliviafb
IL GIARDINO
Matteo se sentia incrívelmente sufocado no terno recentemente comprado. Ternos não era exatamente o seu estilo de vestimenta favorito. Não que ele não fosse familiar ao estilo, já tendo fotografado dezenas, se não centenas, de ternos diferentes, mas era incrível como algo tão simples quanto roupas podiam simplesmente mudar todo um sentimento na vida real. Não era como se estivesse indo para a própria morte, mas o gosto de bile que parecia subir ocasionalmente pela sua garganta o fazia parecer que sim. Aquela parecia ser uma péssima ideia. Ele? Reencarnado? Nem os contas de fadas eram tão fantasiosos assim. Khadel era uma cidade normal e, acima disso, ele era normal. Melhor que a média, apenas por causa da sua disciplina inabalável, mas era normal e não uma alma de cem anos ou que que quisessem acreditar.
E, ainda, ali estava ele, vestido igual um pinguim, ajeitando a gola apertada do terno enquanto encarava o restaurante. Era errado. Olivia acreditava naquilo, não era? Ou estaria ela falando aos prantos que eles eram almas gêmeas apenas para chamar atenção? Não que fosse apenas ele. Ela parecia acreditar que o Chris também poderia ser e, por alguma razão, aquilo parecia o incomodar. Deixa de ser burro, Matteo. Eles já haviam ido por aquela rota e não havia dado certo. Matteo preferia focar em coisas onde fosse suceder. Parecia estúpido pensar em algo provado e fracassado. E, ainda, ali estava ele, esperando a ex-namorada. Definitivamente, deveria estar enlouquecido. Pescou o celular do bolso para olhar as horas. Se ainda conhecesse Olivia, ela estaria elegantemente atrasada, para que sua entrada tivesse impacto. Ela quem costumava pensar nesses detalhes na breve relação entre eles. Detalhes que nunca passariam na cabeça de Matteo. Estava absorto na confusão que se desenrolava em sua cabeça, até notar a apróximação da morena pelo canto do olho.
( @khdpontos )
Ele deu uma risada sem graça com a pequena impressão dela e um haltere. Pasqualina na academia havia sido provavelmente só uma miragem que um dia ele havia visto. Ele prometeu ajudá-la, mas ela nunca aparecia — sempre muito ocupada com o grupo das jasmines, margaridas, ou sabe-se o quê? Eles eram tão diferentes. "Scarlet?" Ele repetiu, com o levantar de sobrancelha, e observando o corpo dela se fechar ao falar da outra. Matteo não era do tipo que gostava de se meter no assunto dos outros, mas o jeito que Lina agia ao nome da outra lhe parecia... estranho. Normalmente, Scarlett não era uma pessoa muito... agradável, mas o que ele via não era desprezo. Era um certo tipo de agitação diferente. "Parece ter sido agradável, Lina. Bem, a gente certamente vai se ver por ai."
ENCERRADO ( @khdpontos )
Movimentou a cabeça no mesmo ritmo em que as palavras saíam dos lábios de Matteo, os olhos levemente arregalados devido ao teor da frase, mas logo a expressão se desmanchou nos lábios curvados, segurando uma risada. Achou engraçado a forma como ele tinha escolhido uma palavra não ofensiva, somente por ser ela a sua interlocutora, talvez imaginasse que Lina se dissolveria em um monte de açúcar ao escutar um palavrão. "Acho que no hospital você teria ainda mais tempo livre, não? Ia ficar completamente sem treinar e tudo..." Ao mencionar o treino, simulou um movimento de musculação, como se flexionasse um halter.
"Um duelo? Com facas? Meu Deus..." Ficou imaginando a cena em sua mente e ficou alguns segundos em silêncio, a cabeça levemente inclinada enquanto imaginava Matteo duelando como um espadachim. "Fico feliz que não tenha sido nada grave e, ah, eu fui com...com a Scarlet." A mudança de expressão foi evidente, ao mencionar a ruiva as sobrancelhas se curvaram e os braços se cruzaram. "Nós tivemos que tomar um chá e jantar com a senhora Castellani, ela tinha o pingente da Julieta e...Bom, foi bem agradável conhecer a senhorinha, ela não nos chamou para um duelo nem nada disso." Apesar das palavras doces, sua expressão era contraditória, ficava séria e defensiva toda vez que recordava do beijo que trocara com a menina malvada de Khadel.
Starter fechado para @neslihvns
Quadra de tênis
Sua rotina de exercícios focava em musculação e atividades que ainda poderiam ser feitas na Casa Comune, como kickboxing, Muay Thai ou boxe. Porém, vez ou outra, Matteo gostava de se aventurar em outros esportes. Fosse para causar um pequeno desconforto no seu corpo ao experimentar algo novo, fosse para quebrar um pouco a monotonia do conhecido, ele achava que colocar coisas diferentes na sua rotina lhe traria algum benefício. Era por isso que, naquela manhã, ele optou pelo tênis. Pegou uma raquete esquecida dentro da garagem abarrotada de quinquilharias e logo a onda de memórias associadas ao objeto veio em sua mente.
Ele tinha treze anos e pegou uma raquete no quarto de Neslihan. Ela estava tentando ensiná-lo algo de matemática, mas a mente inquieta de Matteo não conseguia focar nas equações. Ele não entendia porque as coisas lhe eram tão mais difíceis quanto para os seus colegas, mas os números, letras e formas pareciam dançar na folha, causando sua própria inquietação. Ele perguntou para ela o que era aquilo e, mesmo entre um olhar autoritário que dizia que ele devia estar prestando atenção em outra coisa, ela explicou para ele o jogo.
Aos dezesseis anos foi provavelmente quando jogaram o último jogo juntos. Cada dia mais suas lições ficavam espaçadas. Algumas vezes interrompidas por causa da nova rotina física de Matteo, outros dias por algum compromisso que Neslihan possuia. Parecia que suas agendas nunca alinhavam, tão raro quanto um completo alinhamento planetário e Matteo só sabia responder com a única expressão externa que conseguia oferecer aos outros: indiferença. Não podia ir atrás dela. Ele nem sabia o que havia acontecido para o afastamento. Depois daquele dia nunca mais se encontraram intencionalmente dentro ou fora da quadra.
Tinha vinte anos e havia jogado algumas vezes aleatórias, ainda com a raquete emprestada que nunca devolveu. Algumas objetos ficavam perdidos pelo contato entre aqueles que os manipulavam e esse era um dos casos. Talvez nunca voltaria ao verdadeiro dono. Parou de jogar por muito tempo.
Agora, segurando a raquete, ele percebia o quanto ela parecia pequena na sua mão e muito mais velha que lembrava. Talvez fosse a camada de poeira que lhe cobria, depois de longos anos em desuso. Ele girou na mão e decidiu levá-la, mais pelo valor sentimental do que pela praticidade. Provavelmente teria que alugar uma nova para poder jogar. Mas algo de tudo que estava acontecendo, a ligação do grupo mais improvável que poderia ser colocado junto em Khadel, fazia com que ele pensasse mais sobre as suas conexões, ou a falta delas. No fundo Matteo sabia que a indiferença com que levava a vida seria sua ruína. Sozinho, desconfiado e provavelmente rabugento. Era assim que terminaria. Não poderia culpar nenhuma maldição pelo desamor, ele mesmo afastava qualquer um que se atrevesse a tentar estar na sua vida.
Como se evocasse o fantasma de Neslihan com aquela raquete, ele avistou a mulher numa das quadras assim que chegou no lugar. Era cedo, talvez cedo demais, para agir indiferente e fingir que não havia lhe visto. Eram as únicas almas ali naquele horário, tirando o jovem na entrada que havia o recebido. Matteo respirou fundo e foi em direção à mulher, tentando pensar em algo para dizer, mas tudo parecia ficar àquem do desejável. "Ei," cumprimentou, soando patético na sua cabeça, mesmo que nada realmente escorrece ao exterior.
( @khdpontos )
A hostess se aproximou da mesa com um homem que definitivamente não era quem ele esperava e estava pronto para contradizer, mas a expressão resoluta da mulher e as palavras que se succederam do homem deixou claro que ele estava onde deveria estar, por mais confuso que fosse. "Encontro?" Matteo repetiu sem entender o que estava acontecendo. Ele achou que iria encontrar o próprio amigo. Será que tinha entendido tudo errado? Óbvio que Nico estava achando graça em toda essa coisa de alma gêmea e tinha que fazer algo cômico, as suas custas. E óbvio que ele iria colocar Matteo com... Aaron? Lembrava vagamente do outro na cachoeira, mas nunca tiveram muito contato antes. A cidade é pequena e, em certo nível, todo mundo se conhece, mas além do nome e de onde o homem trabalhava, seu conhecimento sobre o outro acabava ali. Ao menos, o fato dele não saber nada sobre Aaron fazia ele ser mais provável de ser sua alma gêmea, pelo benefício da dúvida. Ainda confuso com as circunstâncias, Nico deveria ter dito as palavras de uma forma que o deixasse confuso porque saberia que se ele tivesse sugerido um encontro às cegas, Matteo jamais teria aceitado. A sua vida amorosa não era tão humilhante assim. Ele poderia ter quase todo mundo que quisesse, o problema era querer. Não era como se esperasse exatamente um grande romance, nem nada desse gênero, mas Matteo achava que não tinha tempo a perder em relacionamento vazios. Se não tinha um mínimo de excitação nesses relacionamentos, porque perderia seu tempo dando atenção para outra pessoa quanto ele mesmo precisava do seu foco total. "Matteo," disse, pegando a mão do homem e cumprimentando brevemente. Parte dele gostaria de correr, deixar todo o encontro para trás, mas toda a história de maldição o estava deixando curioso. E também estava curioso para saber o que aqueles que estavam envolvidos também achavam. "Por que eu saio no lucro? Você é uma ótima alma gêmea ou algo do tipo?" Perguntou, apertando os lábios num rápido sorriso entretido enquanto se sentava na cadeira em frente e pedia uma água com limão.
Aaron ergueu os olhos do cardápio assim que ouviu passos se aproximando. Ele já estava considerando que teria que sair dali em mais alguns minutos, só para poder dizer que tentou. Mas, ao ver quem a hostess estava guiando alguém até a sua mesa, arqueou uma sobrancelha. "Hm...Você definitivamente não é o que eu esperava." Blackwell acabou murmurando sem querer. Quando aceitou ir a um encontro às cegas no lugar de Nico Cagni — depois de perder uma aposta — jamais pensou que seu date pudesse ser um homem. Fechou o cardápio com calma e o apoiou sobre a mesa, inclinando-se ligeiramente para frente enquanto estudava o outro. Por fim, quando viu a atendente se afastar, decidiu se levantar, estendendo a mão na direção do moreno. "Aaron Blackwell, prazer". Indicando a cadeira vazia em sua frente, como um convite ao que quer que fosse aquilo, Aaron voltou a se sentar. "Sei que não sou o que você estava esperando, mas Nico não podia vir a esse encontro e pediu que eu viesse em seu lugar. Normalmente eu não faço esse tipo de coisa, mas...", deu de ombros. "Tinha uma dívida para pagar". E existem formas piores de pagar do que ir para um encontro. "Bom, já que estamos aqui, podemos pelo menos pedir algo. O vinho e a comida já estão pagos por Cagni, e eu definitivamente não vou recusar um jantar decente." Levantou um pouco a taça que já tinha em mãos e lançou um olhar divertido para o rapaz, que parecia confuso. "Bom, e considerando as opções, acho que você saiu no lucro."
75 posts